É muito inspirador poder ouvir assuntos que a gente gosta sendo debatidos. Nesse fim de semana, participei do Festival Path, um evento que reúne palestras, shows e outros eventos ligados à inovação e criatividade.
Os painéis passam por vários assuntos: futurismo, educação, engajamento social e digital, empreendedorismo, moda, música, entre outros. Algumas palestras foram focadas no tema alimentação, direta ou indiretamente.
Esta foi minha primeira vez no festival e, conversando com alguns participantes que visitaram as edições anteriores, fiquei sabendo que o tema alimentação ganhou força este ano. O que significa que o assunto está gerando mais interesse nas pessoas! YAY 🙂
O que foi legal é que descobri várias iniciativas que estão rolando por aí, especialmente em agricultura urbana e hortas comunitárias, que pretendo visitar e trazer aqui como dica no Marmiteira.
Entre elas, a Komborganica, uma “kombosa” que circula pela cidade encurtando o espaço entre o consumidor e o pequeno produtor, e a É Hora da Horta, um respiro de natureza no meio da cidade, lá na Casa Verde.
O que eu senti é que o tema “orgânicos” ainda gera muito mais dúvidas do que respostas. Eu mesma tenho um monte de dúvidas sobre a agricultura orgânica e sobre alimentação como um todo.
É muita informação sobre o tema, mas, ao mesmo tempo, parece que nunca é suficiente para esclarecer: o que devemos comer? As pessoas não conseguem ainda assimilar porque o orgânico é mais caro e, no fundo, a conta fica sempre na mão do consumidor.
O discurso mais ouvido é de que se passarmos consumir mais orgânicos, isso irá enfraquecer as empresas que monopolizam a indústria da alimentação e empoderar os pequenos produtores rurais. Eu acredito nisso, mas ainda acho que falta vontade do poder público e mesmo de investidores dispostos a romper essa cadeia.
As dúvidas também passam pela legislação dos orgânicos, que é super burocrática, enquanto que as gigantes da área deitam, rolam e dominam. Enfim, são questionamentos que ainda não têm uma resposta pronta, mas o que é interessante é que estão em pauta. A sala estava lotada.
É fato: as pessoas querem comer melhor, mas não sabem exatamente como.
Outra palestra que eu acho que vale destacar é: “O agronegócio é o vale do silício brasileiro”. Ouvi coisas interessantes, porque o foco foi mostrar o que de inovador vem sendo feito no agronegócio, e que ao mesmo tempo contemplam os aspectos sustentáveis e a preocupação com o desmatamento.
Os especialistas que participaram destacaram os avanços tecnológicos que vêm acontecendo no campo, graças aos diversos centros de referência em pesquisa na área que temos por aqui (como a Unicamp, a Unesp e o Complexo USP).
Um dos cases apresentados foi o da empresa Bug Agentes Biológicos, considerada a 33ª empresa mais inovadora do mundo pela Fast Company, que produz e comercializa vespas de controle biológico. Como funciona (grosso modo): elas comem os parasitas que atingem as plantações e, com isso, ajudam a reduzir consideravelmente o uso de agrotóxicos.
Outro case foi o da CBPak, empresa que fabrica copos e embalagens 100% ecológicas feitas de mandioca. O produto, além de ser sustentável, tem um consumo mais baixo do que um copo de plástico tradicional. O preço é mais alto, mas a estimativa apresentada mostra que o investimento faz sentido: em um dia comum de trabalho, um funcionário costuma gastar em média de 8 a 10 copos de plástico por dia. Sabe aquele copo fininho, que quando você vai pegar um café acaba pegando dois, pra não queimar a mão? Então. O de mandioca é térmico, então, o consumo cai para 2 a 3 por dia.
Quando o assunto foi os orgânicos, ficou claro que enquanto alguns países na Europa migram para 100% de produção orgânica, aqui ainda não se fala em abolição dos produtos químicos. Notei que ainda existe uma discussão muito grande com relação ao radicalismo da agricultura orgânica e a viabilidade deste modelo na produção de grande escala. Resumindo:
Não vi respostas, mas sim, muitas perguntas e perspectivas. E isso é bom.
Cidade ativa!
Quando se fala em uma preocupação maior com a qualidade dos alimentos e com o teor nutricional dos pratos, automaticamente pensamos em uma vida mais saudável e ativa.
E esse foi o tema da palestra ministrada pelas arquitetas urbanistas Rafaella Basile e Gabriela Callejas, que é cofundadora do projeto Cidade Ativa. A iniciativa aposta em projetos que incentivem as pessoas a sairem de casa. Para isso, elas pesquisam a relação entre a saúde, o comportamento e a forma entre os centros urbanos.
Olhando assim, sem refletir muito, quase que não dá para enxergar a relação entre uma coisa e outra, mas elas trouxeram exemplos muito interessantes para entender melhor estas conexões. Por exemplo: você já parou pra pensar na disposição dos elevadores e escadas de incêndio na maioria dos prédios que a gente visita?
Geralmente é assim: você entra e tem um elevador lá lindão, de cara, sorrindo pra você. E a escada de incêndio tá lá, escondida num canto, feia e escura. Isso acaba incentivando todo mundo a ignorar a escada, ainda que o objetivo seja chegar nos andares mais baixos.
Nos Estados Unidos, os projetos já estão considerando a mudança desse paradigma, seguindo o conceito de Active Design, em que o planejamento de espaços urbanos e edifícios vem sendo pensado para estimular o caminhar, o subir escadas, enfim, o movimento!
Outro case que ilustra essa mudança de pensamento: elas trouxeram como exemplo uma campanha realizada pela prefeitura de Nova York, que disponibilizou o download de cartazes com os dizeres “Burn Calories Not Electricity” (“Queime calorias, não eletricidade”) para que os prédios colassem ao lado do elevador.
Claro que a ilustração mostrava um homenzinho subindo uma escada, que, combinada a esta frase de impacto, fez com que muita gente mudasse seus hábitos. São iniciativas simples, mas que quebram hábitos nocivos e promovem um estilo de vida mais ativo.
E é fato: existem estudos que relacionam as doenças crônicas como diabetes, hipertensão e colesterol ao desenho urbano: quanto mais amigável é a rua, mais a gente caminha e adota um estilo de vida ativo.
Em São Paulo, por exemplo, temos vários problemas: calçadas destruídas, transporte público precário, violência…some isso aos incentivos federais para a compra de carros. Adivinhe qual é a opção mais confortável?
Mas eu vejo muitos avanços nesse sentido e também vai de cada um tentar colocar mais atividade no seu dia a dia: usar o transporte público sempre que possível, caminhar quando der pra caminhar, subir escada quando der pra subir.
A apropriação dos espaços urbanos é uma realidade nos países desenvolvidos. E a gente pode chegar lá.
“Todo dia, quando a gente levanta da cama, pode fazer uma escolha diferente”, foi uma das frases expostas pelas palestrantes. Já fez questionamento hoje?
❤ Lições do Capão! ❤
Pra finalizar eu vou falar de uma das palestras que mais gostei, na qual uma galera do Capão Redondo contou um pouco das iniciativas sociais que estão trazendo perspectiva para muita gente que mora nessa comunidade.
Para quem não sabe o Capão é o bairro mais violento de São Paulo, segundo dados da Secretaria de Estado da Segurança Pública.
Mas é lá também que está localizada uma das 10 escolas consideradas mais transformadoras do mundo, o Cieja. A escola de educação de jovens e adultos tem seu próprio sistema de ensino: colaborativo. Todas as decisões são tomadas democraticamente, e os próprios alunos escolhem como querem aprender. Com este método, acabou se tornando um centro de referência para a própria comunidade.
Foi de lá que saíram exemplos de meninos que, com pouco ou nenhum recurso, se tornaram líderes de projetos como o Projeto Viela, o TV Doc Capão e o mais recente Jovens Autores.
Você pode estar se perguntando o que tem a ver este tema com tudo o que eu disse acima, e eu poderia responder que sou apaixonada pelos temas sociais e também por alimentação, então simplesmente quis participar de todas as palestras relacionadas a estes assuntos no Festival Path.
Mas na verdade uma coisa tem tudo a ver com a outra. Estes meninos disseram que todos os projetos buscam “criar perspectivas, não salvar vidas”. Acredito que para mudarmos hábitos antigos, como o sedentarismo ou uma alimentação desregrada, é preciso focar nisso: em perspectivas.
O foco está na mudança, não na perfeição. No ampliar a consciência sobre o ato de comer, algo tão presente na nossa vida, mas que muitas vezes fazemos no automático. Sem prazer. Sem respeito ao próprio corpo.
Em tempos de fla-flu em todas as esferas da vida, é legal tentar o caminho do meio.
Não dá para cozinhar todo dia? Cozinhe duas vezes por semana. Não dá para deixar o carro na garagem a semana toda? Vá de metrô no dia do rodízio. Não consegue ou não tem vontade de ir pra academia? Procure se mexer de alguma forma que te traga energia e saúde.
Não precisa virar musa fit pra ser feliz e saudável.
Vamos ser mais leves. 😉
(Se você leu até aqui, dá cá um abraço: desculpe o textão. É que foi uma overdose de inspiração, rs!)