Você já parou para pensar no trajeto que um alimento percorre desde a hora em que ele sai da terra, até o momento em que é servido na mesa da sua casa? Se a resposta é não, sugiro que você comece a pensar.
Todo mundo sabe que a nossa saúde é fruto das nossas escolhas, mas na correria em que se vive hoje em dia nem sempre é fácil parar para refletir sobre o impacto que o nosso consumo traz para a economia, para o meio ambiente e, claro, para nós mesmos.
Na semana passada, aconteceu em São Paulo um evento para discutir justamente essa questão: a sustentabilidade do ciclo alimentar.
Da Terra à Mesa foi organizado pela Raquel Labonia, da WellMove, parceira do Marmiteira, e contou com muita gente bacana e cheia de conteúdo: Viviane Kim (Liv Up), Adriana Oppenheim (Orgulho Xepa), Joana Ricci (Komborgânica), Camila Kneip (Ong Banco de Alimentos) e Maiara Batista (Rua Lixo Zero / Giral).
Foi muito legal ver uma sala cheia de gente interessada em debater este tema e eu trouxe aqui 4 dicas de ouro que colhi por lá.
1. Se você não pode comprar 100% da alimentação orgânica, compre 10%. E depois 20%, 30%…
Eu não costumo levantar muito a bandeira dos orgânicos por aqui pelo simples fato de que moro em uma cidade grande e sinto na pele as dificuldades de se investir em uma alimentação 100% orgânica.
O lance é que hábitos se constroem aos poucos, mas é preciso começar: se você ainda acha caro, (o que também está mudando, com a maior procura por orgânicos os preços estão começando a se equiparar), compre só metade da sua lista em orgânicos. E, aos poucos, pode ir aumentando gradativamente.
Se não sabe onde encontrar perto da sua casa, o Idec tem uma lista que pode te ajudar nisso.
O alimento orgânico é pensado de forma sustentável: bom para a economia, para a sociedade e para o ambiente. Você leva pra casa um alimento livre de agrotóxico, contribui para a agricultura familiar e para o meio ambiente. Este link aqui do site Orgulho Xepa tem um infográfico bem interessante sobre o tema.
2. Comer jabuticaba do pé é mais gostoso (ou a importância da sazonalidade)
Você certamente já ouviu essa frase e ela é 100% verdadeira: quanto mais “perto”a gente chega da colheita do alimento, mais saboroso ele é. Daí a importância de se pensar na sazonalidade. Comprar o alimento de época é a garantia de que você terá um prato mais rico em termos nutricionais e, o que é melhor, por um preço mais justo!
O que determina a sazonalidade de um produto são as condições climáticas. Ou seja: se está na época do morango, ele vai estar mais fresco e no auge do seu sabor → todo mundo vai estar produzindo → vai ter mais morango na praça → o preço cai → todo mundo fica feliz. 🙂
Claro que ninguém é obrigado a saber isso de cor, mas para facilitar a vida a Ceagesp solta uma lista mensal com a sazonalidade dos alimentos. Consulte antes de ir pra feira!
3. As folhas dos legumes são seu atestado de validade
Essa diquinha eu achei muito legal. Você já viu na feira quando as cenouras estão com ramas verdinhas, verdinhas? Isso vale para qualquer legume com folha: rabanete, beterraba, etc.
Isso é a garantia de que o produto está fresco. Porque as folhas são as que envelhecem primeiro, vão ficando escuras. Ou seja: não é à toa que no mercado você NUNCA vai ver uma cenoura com rama, porque provavelmente este produto viajou por dias até chegar na bancada, então eles descartam essa parte do alimento.
Vale lembrar que assim que o alimento sai da terra ou do pé ele vai “morrendo” aos poucos: vai oxidando, devido à temperatura e diversos outros fatores.
Aí a gente volta aos tópicos anteriores: quanto mais você conseguir chegar perto do produtor dos alimentos que você compra, menor a chance de ele ter ficado exposto à ação do tempo, da poluição e de ainda mais agentes químicos que muitas vezes são utilizados para devolver o “brilho” dos alimentos antes de irem para as gôndolas.
4. Ao invés de gastar com suplementos e vitaminas artificiais, consuma talos e folhas
Esqueça o mito de que folhas e talos têm mais agrotóxico do que o alimento em si. Quer uma prova disso? O abacaxi é um dos campeões em contaminação, a despeito daquela cascona grossa.
Isso porque, infelizmente, a adubação química evoluiu a tal ponto que a aplicação não se restringe só à pulverização, mas está na terra também. Ou seja: a concentração do agrotóxico também vai para a polpa.
Daí a importância do aproveitamento integral dos alimentos: muitas vezes, como já venho batendo nessa tecla aqui no Marmiteira, a maior parte dos nutrientes está nas cascas, folhas e talos.
A nutri Camila Kneip, da ong Banco de Alimentos, usou a beterraba como exemplo: seus talos e folhas têm quase o dobro de fibras; 3,5 vezes mais vitamina C; 42 vezes mais fósforo e 430 vezes mais cálcio do que o alimento em si.
Dá pra acreditar que a gente joga no lixo essa saúde toda, e gasta na farmácia com suplemento e vitamina?
Tudo que a gente joga fora, na verdade continua aqui
E para fechar o ciclo completo da alimentação, não tem como não falar do lixo que produzimos. Quando a gente joga fora alguma coisa, simplesmente a eliminamos da nossa casa, mas ela tá aí, no mundão, e vai ter que ser processada de alguma forma.
A galera do Projeto Rua Lixo Zero tem propostas interessantes para quem curte temas como compostagem e o destino correto de resíduos.
E você pode também começar fazendo sua parte reduzindo o lixo orgânico da sua própria casa: evitando jogar fora partes dos alimentos que podem ser consumidas.
Viu só como uma coisa tá ligada à outra? Isso é que pensamento sustentável! 😉
E se você achou que ia ficar sem receitinha hoje, se enganou. Taí uma dica delícia que foi feita pela nutri Camila no dia do evento.
Patê de talos de beterraba
Ingredientes
1/2 maço de talos de beterraba
1/2 unidade de cebola
1 dente de alho
1 colher (chá) de sal
1 colher (sopa) de vinagre
1 colher (sopa) de azeite
1 pacote de ricota
1/2 unidade de iogurte natural
Modo de preparo
Só processar tudo!