O mundo da alimentação está cheio de “desinformação”: mitos que são propagados sem serem checados; frases soltas saídas de bocas de famosas (que acabam virando verdades absolutas), e, sobretudo, o modismo que acaba colocando as coisas mais simples numa gourmetização desnecessária.
Por outro lado, tem muita gente notando isso e remando contra a maré: tentando trazer INFORMAÇÃO e mostrar que comida boa e saudável é a de verdade, que cabe no bolso e que não é vendida em embalagem com mil promessas de emagrecimento. Comida boa é a que vem de uma cadeia sustentável: boa pro bolso, pras pessoas, pro planeta.
Hoje vou falar de duas iniciativas na área de alimentação consciente. 🙂
Consumo com responsa!
O aplicativo Responsa foi lançado este mês com o objetivo de dar ao usuário a chance de conhecer a origem do que está consumindo.
O app traz um mapa de restaurantes que usam ingredientes orgânicos, feiras que oferecem produtos veganos/orgânicos com preços justos, hortas comunitárias, grupos de consumo responsável e outras experiências de agroecologia e economia solidária.
O app é gratuito e, por enquanto, somente disponível para usuários de Android. É possível filtrar por tipo de local (restaurante, feira, etc.) ou município, e acessar um banco de dados com mais de 3 mil iniciativas ligadas ao consumo responsável em todo o território nacional.
Outra coisa bacana é que, se estiver com o GPS ligado, o aplicativo alerta ao usuário sobre iniciativas de consumo responsável mais próximas de onde ele estiver.
O Responsa foi desenvolvido pelo Instituto Kairós e a Cooperativa EITA, que também anunciaram em outubro a chegada do Portal do Consumo Responsável. Clica para conferir mais informações sobre o tema!
Projeto Alimento: de onde vêm nossos hábitos alimentares?
A Maíra Bueno é mestre e doutora em Antropologia pela Unicamp, professora universitária e idealizadora e pesquisadora do Projeto Alimento.
Ela pesquisa a área de alimentação, produção agrícola e conservação ambiental e, no site do seu projeto, reúne os principais achados dessa sua pesquisa.
Alguns dos temas que você pode conferir por lá: feminismo na cozinha, como funciona um supermercado, entrevistas sobre a comercialização de alimentos, agricultura urbana, lobby da indústria alimentícia, a relação de chefs com os alimentos, etc.
Maira conta que, após trabalhar por anos nessa área, sentiu que precisava estimular o debate sobre tudo o que reflete na nossa alimentação. “Tem muita coisa em jogo e que acaba interferindo diretamente na vida das pessoas. Das populações tradicionais da Amazônia às populações urbanas de grandes centros.”
Pedi para que ela me indicasse alguns dos principais achados em tantos anos de pesquisa. “Todas as entrevistas trazem informações bem interessantes! A que fizemos com Anelise Rizzolo, por exemplo, sobre políticas da nutrição, revela como a indústria de alimentos atua no País. Anelise explica que existe um conflito de interesses muito forte entre setor privado e setor público na definição das políticas alimentares no Brasil. A população brasileira está sofrendo cada vez mais com doenças geradas pelo consumo dos chamados alimentos processados e ultraprocessados”.
Ela destaca também a entrevista sobre o Guia Alimentar Brasileiro. “Mostra porque sopa em pó, bebidas açucaradas, condimentos artificiais continuam sendo chamados de ‘alimentos’. A questão de como a categoria do alimento se configura é fundamental. Porque ninguém vai comer algo que se enquadra em uma categoria nociva à saúde. Se esses produtos fossem chamados por outros nomes, talvez houvesse outra percepção sobre o que eles realmente são. Mas quando produtos que comprovadamente fazem mal à saúde, não importa a quantidade que você coma, são chamados de alimentos, como fica?“, questiona.
Em novembro, Maira ministra um curso focado nestes assunto, dividido em duas partes. Anota aí!
Serviço
Curso Práticas alimentares, relações de consumo e meio ambiente I e II
Quando: 05/11/2016 (I) e 26/11/2016 (II) das 9h às 16h30
Onde: Instituto Casa da Cidade, Rua Rodésia, 398,Vila Madalena, São Paulo – SP.
Módulo 1: Entre orgânicos e ultra-processados: alimentação e desafios contemporâneos
Módulo 2: Pesquisa-ação: o que estamos comendo?
Módulo 3: “A alimentação brasileira e suas especificidades
Módulo 4: Pesquisa-ação: o que estamos comendo? (Parte II)
O curso completo custa R$ 150 e pode ser parcelado em duas vezes. Caso opte em fazer apenas um dia de curso, o preço é R$ 80 à vista. Informações: contato@projetoalimento.com.br.