Eu achava que cirurgia plástica no Brasil era coisa de gente rica até me deparar com um documentário muito bom que está disponível no Youtube, Brazil’s plastic surgery obsession, do canal Unreported World.
É interessante que um canal de fora do País olhou para um assunto que eu, de dentro da minha bolha, nunca tinha parado para pensar: as mulheres periféricas também fazem cirurgia plástica.
O impulso é o mesmo em qualquer classe social – reproduzir o que se consome todos os dias nas revistas, nas novelas, no Instagram: um padrão de beleza baseado na magreza, extremamente excludente e opressor.
Algo que influencia, da mesma forma, TODAS as mulheres – independente da conta bancária, do nível de escolaridade ou da região onde mora.
Eu realmente acho que todo mundo tem o direito de fazer o que quer com seu próprio corpo e melhorar o que não gosta. O que me intriga é a motivação – por que estamos cada vez mais insatisfeitas com nossos corpos?
Que corpo perfeito é esse que faz muitas mulheres se submeterem a procedimentos complicados, enfrentar recuperações doloridas, gastar um dinheiro que não têm, e, ainda assim, continuar com a autoestima lá embaixo?
O documentário não responde essas questões, mas é um bom ponto de partida para quem anda se questionando sobre essas coisas. Fica a dica!
Bumbum novo em 12 vezes sem juros
Eu ando um pouco impressionada com a banalização da cirurgia plástica no Brasil. Vejo famosas que, teoricamente, têm o tal “corpo perfeito”, e ainda assim vivem fazendo novos procedimentos, corrigindo “imperfeições” sob a alegação de que tal coisa as incomodavam e que, depois de arrumar, finalmente se sentiram felizes e realizadas. Adoram contar isso no Instagram.
Só que isso é uma enorme mentira, porque a busca obsessiva pela perfeição só gera mais insatisfação.
O fato é que estamos perdidos com relação ao que é “corpo perfeito”. Não à toa, ocupamos o segundo lugar do ranking mundial de países que mais fazem cirurgia plástica – só perdemos para os Estados Unidos.
Essa semana, uma brasileira morreu depois de ter complicações em uma cirurgia de um médico que atendia dentro da própria casa. DENTRO. DA. PRÓPRIA. CASA. Conhecido como “Dr. Bumbum”, com mais de 600 mil seguidores no Instagram, fazia avaliações pelo WhatsApp (!!!) e colecionava passagens pela polícia.
Mesmo com esse ilustre currículo, aparentemente fazia centenas de cirurgias por mês. E, de novo, me pergunto: que corpo é esse que estamos buscando?
Isso me remete a uma frase que me chamou atenção nesse documentário. O repórter pergunta a uma mulher por que ela acha que a filha deve fazer uma cirurgia para tirar gordura da barriga. “Ah, isso atrapalha até para procurar emprego.” E ele responde: “Que tipo de emprego a senhora acha que ela poderia encontrar se tivesse uma barriga chapada?”.
A resposta da mãe: “A mulher tem que estar apresentável para atender“.
De fato: ser mulher no Brasil ainda é um enorme desafio. Mas enquanto continuarmos sofrendo tanto para manter esse mesmo padrão de beleza, achando que ter barriga, celulite e estria é que é estranho, esse problema não vai ter fim.