A essa altura, você já deve estar sabendo que um dos assuntos mais comentados da semana foi o desabafo da Bruna Marquezine no Instagram sobre as críticas que ela vem recebendo sobre seu corpo.
Sim, ela recebe comentários negativos, mesmo tendo aquele corpo, mesmo estando 100% dentro do padrão considerado bonito, mesmo postando fotos absolutamente incríveis com looks que nem 0,0001% das pessoas que eu conheço conseguiria pagar, em cenários igualmente deslumbrantes.
Em tempo: eu não sigo a Bruna Marquezine, de modo que não me ocorreu que ela recebesse críticas, muito menos pela aparência.
Se você pegou o bonde andando, aqui vai um breve resumo: aparentemente, algumas pessoas acham que ela está “muito magra” e, por isso, se acham no direito de falar o que bem entendem nos comentários das fotos que ela posta.
Às vezes sob a desculpa de que estão preocupados com a saúde da moça (Oi? Roupa no tanque pra lavar, não tem?), e às vezes de forma maldosa mesmo. Tecem comentários grosseiros, com argumentos absurdos.
“Desse jeito vai ficar anoréxica”, “Cuidado que o Neymar vai te trocar por outra” (???) e coisas do tipo, só para citar alguns exemplos.
O fato é que a moça se cansou desse tipo de comentário e resolveu usar o Instagram para falar por longos minutos sobre como ela se sentia diante disso. Sei que você pode, nesse momento, estar se perguntando:
Mas peraí. É magrofobia, agora?
Não é esse o ponto. A questão é que uma mulher, mesmo estando dentro do padrão de beleza considerado “correto”, se sentiu ofendida com a opinião de gente que ela nem conhece. E se você der uma olhadinha nas fotos dela nas redes, jamais vai imaginar que alguma coisa é capaz de abalar aquela vida tão perfeita.
Enquanto isso, milhares de mulheres acham que só serão felizes quando forem magras.
Quando não tiverem mais celulite, nem pneu. Mas a Bruna Marquezine não tem celulite, nem pneu. E ainda assim se sente cobrada. Ou seja: nunca está bom, não é minha gente?
Ela relatou que, um pouco antes de estar “muito magra”, estava alguns quilos mais gorda e muita gente também a criticou nessa ocasião. Então ela passou a acreditar nisso e ver coisas no espelho que não via antes. Acreditou que, de fato, estava gorda.
Passou a tomar laxantes, querendo emagrecer a todo custo, teve vários problemas de saúde por conta disso e até entrou em depressão.
“Nossa, mas se a Bruna Marquezine entrou em depressão, imagina eu, com meu corpo “normal”? Você tem o direito de pensar isso também. De achar que é “mimimi”, que a problematização é desnecessária. Afinal, ela é magra. Ela tem dinheiro. Ela é feliz, ao que tudo indica, certo?
Mas o meu intuito aqui é incentivar uma reflexão que vai além disso: a quem estamos querendo agradar? Por que o corpo alheio é parâmetro? Por que estamos o tempo todo correndo atrás do tal padrão? E, mesmo quando alcançamos este tal “corpo perfeito”, por que encontramos outros “defeitos” aqui ou ali para roubar nossa energia e tirar o nosso brilho?
E quando falo “nós” me refiro a grande maioria das mulheres. Não estou inventando nada: inúmeras pesquisas indicam que estamos cada vez menos satisfeitas com nossos corpos. Isso é preocupante, e precisa ser discutido.
É bom saber que o assunto está em pauta e que alguém tão influente quanto essa atriz teve a coragem de tocar em algo tão delicado. De novo: a ideia aqui não é concluir se o discurso dela está certo ou errado. Mas sim, o quanto ele é simbólico nesse momento que estamos vivendo, de uma revisão geral dos valores machistas com os quais fomos obrigadas a conviver por tantos anos.
Bonito é ser você!
Uma coincidência interessante é que ontem eu passei o dia pensando nesses assuntos de autoestima, padrão estético e autoaceitação, e à noite acabei assistindo um filme incrível que também acaba tocando nessas temáticas de certa forma.
“Eighth grade” conta a história de uma adolescente que está tentando se encaixar nos grupos de jovens da idade dela, mas não consegue. A fórmula não é nova: é aquele filme em que a personagem principal passa o tempo todo sofrendo para ser outra pessoa, para então entender que a beleza está na autenticidade.
Não é spoiler, justamente porque já é uma fórmula desgastada. Mas a sensibilidade com a qual esse filme conta essa história me surpreendeu e eu espero de verdade que ele seja exibido no Brasil, porque precisamos ver mais conteúdos desse tipo!
Vou deixar o trailer aqui para quem se interessar. A personagem principal é absolutamente encantadora.