Nem vou entrar no mérito de que nós, mulheres, temos que provar duas vezes que somos boas em algo para sermos validadas. Você quer ser mãe e profissional ao mesmo tempo? Então se vira aí com seus sentimentos pós-parto, desapega logo dessa cria e, por favor, volte a malhar, porque “ai” daquela que ousar não perder os quilos rapidamente.
Recentemente virou notícia o caso da repórter Michelle Sampaio, da TV Vanguarda, afiliada da Globo, que foi dispensada da emissora depois de muitos e muitos anos de casa. O motivo seriam os quilos que ela ganhou na gravidez e não conseguiu eliminar, segundo contou no Instagram e em algumas entrevistas.
A emissora nega. Mas o curioso dessa história é o efeito que esse desabafo causou entre outras colegas da imprensa, que também vieram a público falar da pressão estética que sofriam dentro da mesma emissora.
Sabe o movimento #metoo? Ou o caso João de Deus? É basicamente isso: uma única voz solitária e corajosa é capaz de abrir as portas para outras milhares que estão oprimidas. Dói ser assediado ou humilhado. Em muitos dos casos, a vítima ainda se sente culpada, e se cala.
Quem tem coragem de peitar grandes nomes de Hollywood? Ou um “médium” que tem até Deus no nome? Ou, ainda, diretores de uma afiliada da Globo?
No caso da jornalista em questão, o objetivo do seu post no Instagram nem era denunciar, causar alarde ou levantar bandeira. Era somente uma despedida honesta dos seus telespectadores, que a acompanharam por tanto tempo.
Ela explicou que não era segredo que o seu peso estava afetando o seu trabalho. Ou seja, todo mundo sabia que ela estava sendo considerada gorda para o padrão de mulheres que a emissora geralmente coloca diante das câmeras.
E é justamente aí que eu me sinto incomodada: o que RAIOS o peso da pessoa tem a ver com a qualidade do seu trabalho?
Lembrando aqui que não estamos falando de um caso de obesidade e nem de problemas de saúde ligados à ela. Estamos falando de ALGUNS QUILINHOS A MAIS. Ou seja, estamos falando de padrão de beleza.
Infelizmente, as mulheres são sempre as mais prejudicadas nessa história. Sim, porque apresentador gordo pode, né? Ôloko, fera, claro que pode.
Mas a pressão estética que nós sofremos é algo tão enraizado na nossa sociedade que já até acostumamos com o padrão imposto e sabemos muito bem de onde vem essa cobrança (nem vou começar a falar de patriarcado aqui, porque isso renderia um LIVRO).
Mas convido a todos a tentarem a desacostumar o olhar desse padrãozinho, porque todo mundo sofre com isso.
“Estou me sentindo adorável”
Eu não conheço muito do trabalho da Michelle, mas, lendo sobre o caso, descobri que ela foi a repórter que descobriu uma das entrevistadas mais fofas já transmitidas por um telejornal. É uma conversa leve, descontraída, e, sobretudo, muito engraçada. Vem comigo.
É isso que importa na reportagem: encontrar a beleza em uma cena cotidiana. Não interessa quanto pesa quem está atrás do microfone, mas sim, a história que ela traz para o telespectador.
Eu poderia fazer uma lista de personalidades famosas ou de outras pessoas do meu dia-a-dia que eu admiro e respeito e que não faço ideia de quanto pesam. Convido você a fazer o mesmo! Isso é um ótimo exercício para se comprovar que a essência de alguém vai muito além da imagem.
Quem sabe, mudando nosso olhar, aumente a pressão por uma representatividade maior na TV e na mídia de um modo geral.
Observação importante
Uso a palavra “gordo” e “gorda” nesse texto simplesmente porque acredito que não são palavras pejorativas, ou que sirvam para diminuir alguém. É só mais uma característica, assim como magro, alto, loiro, moreno, etc. 😉