É bizarro que em 2021 eu esteja escrevendo um texto como esse, incentivando a leitura de autoras negras. O certo, certo, meeesmo, seria nem precisar citar se uma escritora é negra ou branca.
Mas ainda precisamos exaltar este tipo de informação porque mulheres ainda são minorias nas prateleiras. Mulher e negra então, mais raras ainda.
Por isso a gente tem que falar, compartilhar, indicar e apoiar, para que as chamadas “minorias” recebam o reconhecimento que merecem e deixem de ser minorias.
Quanto mais voz damos para as pessoas que não estão no padrão homem-hetero-branco-rico, mais representatividade e diversidade teremos.
Afinal, todo mundo quer se reconhecer em um texto, em um livro, ou se identificar com um personagem de uma série, novela, ou filme, não é verdade?
Diversificar nosso consumo de conteúdo é uma forma de sairmos das chamadas “bolhas”, onde todo mundo se parece com a gente e pensa da mesma forma.
Ganhamos muito quando conseguimos ver a vida sob a ótica de alguém que veio de um contexto diferente do nosso. ♡
Com vocês, Carolina de Jesus
Escrevi este texto inspirada por Carolina de Jesus, que descobri durante a quarentena. A história dela é muito interessante.
Para sobreviver e sustentar os filhos, ela era catadora de papel. Eles moravam em um pequeno barraco na favela do Canindé, em São Paulo.
Além de cuidar da casa e se virar para conseguir colocar comida no prato todos os dias, ela arrumava tempo para, à noite, escrever no seu diário.
Esses escritos foram transformados em um livro, Quarto de Despejo, que devido ao seu sucesso foi traduzido para mais de 16 idiomas.
Nos textos, Carolina narra o dia a dia da favela e todos os perrengues que ela, como uma mulher pobre, preta, periférica e semianalfabeta teve que enfrentar.
Recentemente, ela recebeu uma homenagem póstuma da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e ganhou o título de doutor honoris causa.
Fui procurar saber o que significa este título, e essa matéria da Superinteressante explica que este tipo de honra é concedido a quem se destaca na sociedade na sua área de atuação, e, mesmo sem uma graduação, pode ser considerada “doutora”.
Achei tão bonito esse significado. Lendo o livro, não tem como dizer que esse título não é merecido – o texto é uma verdadeira denúncia social sobre a vida de quem vive à margem, e escancara a desigualdade que – infelizmente – é uma constante no Brasil.
Essa matéria aqui conta um pouco da biografia de Carolina, que, mesmo sem formação e sem estrutura para escrever, se consagrou por meio da sua escrita.
Outras diquinhas
Aproveitei que estava pesquisando este tema para relembrar alguns livros de autoras negras que li nos últimos tempos e gostaria de exaltar por aqui.
O ano em que eu disse sim, Shonda Rhimes
Shonda Rhimes é basicamente uma das escritoras e produtoras americanas mais renomadas da atualidade. Você pode não estar ligando o nome à pessoa, mas ela é simplesmente o nome por trás de séries como Bridgerton, How to Get Away with Murder, Scandal e Grey’s Anatomy.
Esta última falo com conhecimento de causa, pois vi 13 temporadas e só parei porque não suportei a morte de um dos meus personagens preferidos (risos). Mas eu a perdoo por isso, afinal, ela é extraordinariamente inspiradora.
Shonda é uma verdeira expert em quebrar padrões. Em “Grey’s“, por exemplo, ela exalta todos os tipos de mulheres, todos os tipos de corpos, opções sexuais, mulheres que não sonham em casar e ter filhos (e as que sonham também); além de sempre colocar mulheres negras em posições de poder.
Vale muito a pena assistir as coisas que ela está envolvida. No livro O ano em que eu disse sim, é legal saber um pouco sobre como ela venceu suas inseguranças para se tornar uma grande escritora, confiante e dona de si mesma. É leve, divertido e inspirador.
Para Educar Crianças Feministas, Chimamanda Ngozi Adichie
O título pode indicar que esse livro é direcionado apenas às mães, ou às mulheres que um dia querem ser mães. Mas não necessariamente.
O texto é uma excelente porta de entrada para quem está começando a se interessar pelo feminismo.
Com uma linguagem leve e didática, a autora fala sobre a importância da mulher encontrar o seu lugar no mundo sem se prender a padrões, buscando sempre sua verdade, sua essência e, sobretudo, o seu direito de exercer a própria liberdade.
Destaquei um trechinho aqui que achei muito lindo, e fala justamente sobre essa coisa da valorização da imagem que as meninas são ensinadas desde muito cedo:
Fome, Roxane Gay
Já escrevi sobre este livro aqui no meu site, mas volto a falar sobre ele porque é um texto importante, embora pesado.
Em Fome, Roxane conta alguns dos traumas que a fizeram criar uma relação ruim com a comida e com o próprio corpo. Ela chegou aos 200 quilos e enfrentou batalhas profundas com transtornos alimentares.
Seu relato faz a gente repensar mais uma vez o quanto assuntos ligados ao corpo, ao peso e aos padrões de beleza estão entrelaçados com o machismo que a gente enfrenta todos os dias.
Espero que estes livros te inspirem a explorar e descobrir mais histórias de mulheres fortes e interessantes. ♡
Textos relacionados
Fome: este livro pode fazer você repensar o conceito da palavra “gorda”
https://www.danibarg.com/2019/07/18/fome-este-livro-pode-fazer-voce-repensar-o-conceito-da-palavra-gorda/
Referências
Quarto de despejo: diário de uma favelada
Autora: Carolina Maria de Jesus
Ano de publicação: 1960
O ano em que disse sim: como dançar, ficar ao sol e ser a sua própria pessoa
Autora: Shonda Rhimes
Ano de publicação: 2016
Para educar crianças feministas
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Ano de publicação: 2017
Fome: uma autobiografia do (meu) corpo
Autora: Roxane Gay
Ano de publicação: 2017
Foto principal: Prasanna Kumar | Unsplash