“Enquanto algum negro ou alguma mulher tiver sendo humilhada pelo fato de ser negro e de ser mulher eu vou me sentir humilhada.” É assim que Zezé Motta define sua sensação sendo uma figura de destaque tão importante na TV e cinema brasileiros.
A fala é apenas uma entre tantas impactantes reunidas no documentário Tributo, disponível no Globoplay.
Representatividade é um tema que eu exploro muito no meu livro, o Além do Like. De tal forma que assistir esse documentário foi como um sopro de esperança sobre essa questão.
Zezé é a prova viva de que a representatividade é um dos caminhos mais eficazes para uma sociedade mais diversa e menos excludente.
“Muitas jovens me abordam, que não necessariamente queiram seguir a carreira de atriz, mas em outros segmentos. Elas falam: ‘olha, quando eu vi que você conseguiu eu falei – eu também vou conseguir ser uma médica, uma arquiteta’. É muito gratificante ouvir isso e saber que servi de estímulo e de inspiração.”
Cadê todo mundo?
Se sentir pertencente é uma necessidade humana, e por muito tempo as mulheres negras não se viam representadas na TV em papéis de destaque. Felizmente, esse cenário está mudando, ainda em passos lentos, e é uma alegria ver o tanto de portas que Zezé abriu.
Nas entrevistas, ela conta que ao começar a fazer sucesso na TV, percebeu o quanto sentia falta de mais colegas negros ocupando o mesmo espaço.
“Quando as coisas deram certo pra mim, eu comecei a olhar em volta e falei assim: ‘cadê todo mundo?’ Éramos meia dúzia de atores negros em cena. Eu falei ‘gente tem alguma coisa errada’.”
Com o intuito de mudar essa realidade, ela mesma criou um banco de dados, em 1984, o Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro (CIDAN). O objetivo é promover e dar mais visibilidade para artistas negros e deixá-los em evidência, para que sejam escalados para novas produções.
Luta interna contra o embranquecimento
Todo o trabalho de pesquisa que fiz para o meu livro me mostrou que não existe fórmula para a autoestima: cada mulher acha a sua – e cada uma a seu tempo. Assim, é natural rejeitarmos nossos traços em uma sociedade que só privilegia um tipo de beleza.
Assim como milhares de mulheres, Zezé também passou por uma longa e bonita jornada de autoaceitação.
“Teve uma fase da minha que eu era bastante insegura. Eu me achava feia, queria fazer plástica no nariz, queria usar lente de contato. Eu tinha ideias de embranquecimento pra ser aceita. Essa coisa do preconceito é tão cruel que na adolescência eu andei investigando se era possível fazer uma cirurgia pra diminuir o bumbum porque diziam que minha bunda era grande. Olha que loucura! Eu vivia atormentanda com essa total negação das minhas origens e do meu corpo.”
Logo após mergulhar mais profundamente nos estudos sobre suas origens, Zezé decidiu que não mais alisaria o cabelo nem tentaria se “embranquecer”. Nesse sentido, começou a surgir uma necessidade de honrar seus traços genéticos.
“Resolvi que sempre que eu pudesse, no meu trabalho, estaria presente alguma coisa ligada à cultura negra.”
Recomendações finais
Certamente, recomendo muito que você assista ao documentário completo, disponível no Globoplay. E, aproveitando o gancho, te convido a reavaliar suas escolhas de consumo de conteúdo: tem seguido mulheres negras nas redes sociais?
Tem lido livros escritos por mulheres negras? Consumindo coisas produzidas por pessoas negras: seja na TV, seja no cinema, seja no seu bairro? Nossas escolhas individuais afetam o todo – e essa é uma das premissas do meu livro.
Se cada pessoa que ler o Além do Like mudar um pouco sua viso sobre padrão de beleza, e, com sorte, ainda influenciar as pessoas à sua volta, eu me sentirei uma escritora realizada. 🙂
Que o legado de Zezé se multiplique!
Para comprar meu livro
Se você tem interesse em adquirir um exemplar do Além do Like, é só entrar em contato comigo pela minha página do Instagram. Nele, você vai encontrar 40 depoimentos reais de mulheres sobre suas relações com seus corpos.
Além disso, tem entrevistas com especialistas (nutricionistas, educadoras, psicólogas e psiquiatras) e pesquisas recentes sobre a relação entre as redes sociais e a enorme pressão estética que vivemos atualmente.