O que você faria para parar o tempo e manter a juventude?
Parece um sonho impossível, mas para muitas mulheres, essa busca desesperada é uma realidade, especialmente em Hollywood. Muitas tentam se manter jovem, investem em procedimentos estéticos, mas as críticas não param.
Além de as pessoas julgarem o envelhecimento, criticam também as que tentam combatê-lo. Difícil agradar todo mundo, né? No filme A Substância, estrelado por Demi Moore, essa pressão estética é trazida à tona de forma grotesca e impactante.
Ironicamente, sua personagem é quase uma metáfora dessa pressão que ela mesma já experienciou na vida real.
Resumo do filme “A Substância” (sem spoilers)
O filme A Substância é uma crítica feroz à obsessão pela juventude e à invisibilidade das mulheres ao envelhecer. Demi Moore interpreta Elizabeth Sparkl, uma atriz que tem um programa fitness na TV e está completando 50 anos.
Uma vez que cometeu o “crime” de envelhecer, perde seu posto, e fica bastante descontrolada. De forma inesperada, encontra uma fórmula secreta para criar uma versão mais nova de si mesma.
Em seguida, Margaret Qualley entra em cena, interpretando sua versão mais jovem na pele da personagem Sue. Ela chega para mostrar o quanto a juventude é celebrada, a ponto de trazer seu papel na TV de volta.
No entanto, existe uma condição para a substância funcionar: as duas versões têm que se revezar a cada sete dias. Ou seja, elas precisam coexistir.
O resultado é catastrófico, e a partir dessa trama o filme faz uma crítica perturbadora à busca insaciável por aprovação estética.
A busca incansável pela juventude em Hollywood
O filme A Substância aborda temas profundos como o etarismo (preconceito com o envelhecimento) e a pressão estética. Ele retrata como as mulheres, à medida que envelhecem, se tornam invisíveis na sociedade e na mídia, enquanto os homens seguem impunes com suas rugas e cabelos brancos.
Nada é por acaso no filme da francesa Coralie Fargeat. A roteirista e diretora optou por usar imagens grotescas e repugnantes para ilustrar a bizarrice que vivemos na vida real em busca da fonte inesgotável da juventude.
Similarmente, caímos na mesma armadilha fora das telas. Gastamos milhões de dólares por ano em cremes, procedimentos e toda a sorte de produtos que prometem às mulheres essa ilusão de que podemos parar o tempo.
Mas esse pavor de envelhecer não é uma invenção nossa. De fato, as mulheres vão se tornando invisíveis ao passo que vão se tornando mais velhas. Isso porque o padrão de beleza está baixando cada vez mais a régua na questão da idade.
Só para exemplificar: pense nas influencers mais famosas que você conhece, com maior número de seguidores. Nas cantoras que mais aparecem na TV; ou atrizes que protagonizam as novelas e filmes de maior audiência. São jovens ou velhas?
Envelhecer “bem” ou ser julgada: a armadilha estética
“Envelhecer bem”, na nossa sociedade, significa não mostrar nenhum sinal do tempo. Quantas vezes vemos comparações de atrizes da mesma idade, sendo que a que é considerada “bonita” é aquela que provavelmente fez intervenções e demonstra uma aparência mais jovem.
O problema não está em fazer procedimentos ou não. A questão é que somos cobradas e julgadas pela nossa aparência independente das nossas escolhas. As que não cedem aos procedimentos são vistas como “relaxadas”, ou que “não sabem se cuidar”.
Por outro lado, as pessoas tendem a considerar como “fúteis” ou “superficiais” as que cedem a estas cobranças, muitas vezes dizendo que “não aceitam a idade que têm”.
No final das contas, essa motivação para seguir o padrão frequentemente vem mais do externo (para tentar agradar os outros) do que por uma vontade genuína.
Assim como no filme, a busca por tentar agradar é exaustiva.
A desigualdade de gênero por trás da pressão estética
A Substância revela algo que já sabemos: os homens detêm o poder em Hollywood (e no mundo) e ditam os padrões de beleza e envelhecimento. Os acionistas, os donos da emissora, os investidores e a enorme maioria dos cargos de poder são de uma maioria masculina.
Como se não bastasse eles não terem que se preocuparem com rugas ou cabelos brancos, ainda ditam qual mulher ainda “serve”, e qual descartar.
A diretora usa imagens absolutamente repugnantes para evidenciar essa desigualdade.
Reflexões para a vida real: o poder da representatividade feminina
Embora pareça que Hollywood está muito distante da nossa realidade, a verdade é que não está. Vamos pegar como exemplo as últimas eleições no Brasil. As mulheres representam aproximadamente 18% dos políticos eleitos nos municípios1. Já nos cargos de poder, elas ocupam somente 6% dos cargos, segundo pesquisas2.
Sendo assim, cumprir requisitos estéticos para sermos ouvidas e validadas por quem manda ainda é uma realidade na vida das mulheres.
Não é tentando se encaixar esteticamente que a gente vai mudar esse quadro. É se informando e se “empoderando” (apesar do desgaste da palavra) por meio do conhecimento. A igualdade de cargos e de representatividade sim, pode ser um caminho para que as mulheres tenham uma vida mais livre de toda essa pressão.
Bora?
Você já conhece o Além do Like?
Clique aqui para saber mais sobre o meu livro-reportagem: Além do Like – O que está por trás da nossa eterna busca de aprovação por meio da imagem. Entrevistei 40 mulheres, além de nutricionistas, educadoras físicas, psicólogas e psicanalistas.
Nele, falo sobre toda pressão estética que estamos vivendo, o que leva a maioria das mulheres a viver em um constante estado de insatisfação corporal.
Como podemos ser mais livres e satisfeitas com nosso corpo? Esquecer tudo que a cultura das dietas nos ensinou e abandonar a culpa ao comer? Usar as redes sociais de forma menos tóxica, nos comparando menos? Essas são algumas das questões que busquei elaborar. 🙂
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- Estudo da Câmara mostra crescimento de dois pontos percentuais no número de mulheres eleitas ↩︎
- https://exame.com/carreira/apenas-6-de-ceos-sao-mulheres-no-mundo-aponta-pesquisa-da-deloitte/ ↩︎