Eu sempre me achei gorda. Acho que começou ainda na infância, quando eu era a única criança com o corpo “normal” em meio a tantas Olívias Palitos da sala de balé. Que também eram “normais”, dentro do biotipo delas. Mas elas não eram só “normais” para o balé. Elas eram perfeitas. Eu não era perfeita dentro desse universo.
Tanto que eu não fui além da terceira série, quando já estava até usando sapatilha de ponta. Desisti. Angustiada com vontade de dançar, mas me sentindo inadequada naquele ambiente, passei anos e anos me dedicando a TODAS as outras modalidades de dança imagináveis. Jazz, moderno, contemporâneo, salsa, bolero, gafieira. Zouk (capítulo a parte: saudade ♥).
Não acho que foi só o balé que moldou a minha forma de olhar a mim mesma no espelho, foram diversos outros fatores. Felizmente, nunca cheguei a desenvolver nenhum transtorno alimentar. Além disso, por conta da minha criação, meus hábitos sempre me ajudaram a manter uma certa estabilidade no meu peso.
Gosto de comer comida de verdade e caseira (que é uma baita prevenção contra a obesidade) e gosto muito de atividade física. Eu sou ativa. Hiperativa. Isso tudo é ótimo, mas faz com que eu espere mais do meu corpo também: se engordo um ou dois quilos, me cobro muito. Fico pensando: o que estou fazendo de errado?
Dentro da minha visão diante do espelho, eu sei que dois ou três quilos significam muito pra mim. Gostaria muito de ser mais desencanada e me esforço pra isso, mas acho que é só o tempo que nos ensina.
Por exemplo, hoje me sinto bem mais confiante e feliz com o corpo que conquistei aos 36 anos do que quando eu nem precisava fazer tanto esforço, aos 15, e tinha uma barriga CHAPADA (e sim, me achava gorda).
Empatia sempre cai bem
Contei um pouco da minha história porque tenho me perguntando por que a gente se deixa influenciar por estes padrões de beleza – do balé, das capas de revista, das musas do Insta e por aí vai.
Semana passada eu vi uma famosa – que eu não vou citar o nome porque até acho ela bem intencionada – reclamando que está gorda. Só que ela é magra. Ela é 100% dentro do padrão imposto.
Fiquei meio puta ao ver aquilo, e pensei que esse tipo de atitude deve soar meio ofensivo para quem está realmente acima do peso e insatisfeita com o corpo.
Critiquei, mentalmente. Mas depois pensei: quantas vezes eu eu fui essa pessoa? Que sempre fala na roda “nossa, eu tô muito gorda”, me referindo a dois, três quilos a mais do que o meu “normal”?
Acho que antes de fazer esta reclamação vale olhar para o lado, e pensar um pouquinho antes. E lembrar também que estar acima do peso NÃO significa que a pessoa está com a saúde comprometida ou que não tem autoestima.
Hoje, com as redes sociais, a gente tem ainda muito mais estímulo para nos sentirmos inadequadas e ficarmos nos comparando o tempo todo. Os padrões estão cada vez mais inalcançáveis e tudo está ali, na nossa cara.
“Nossa, fulana só come isso de café da manhã”? Por isso é magra. “Eita, essa daí também não come glúten nem lactose”? Deve ser esse o segredo do corpão. “Caramba, boxe e funcional no mesmo dia?”. É puxado, gente.
Acho que vale o exercício de pararmos de nos comparar e buscarmos a melhor versão de nós mesmas (estou falando isso para mim também).
Se a saúde vai bem, estar dois, dez ou trinta quilos a mais não importa. O clichê procede: a beleza vem de dentro pra fora.
Fica aqui um convite para gastarmos energia e tempo valorizando outras coisas. Tomando uma bela cerveja gelada com uma amiga, por exemplo, sem falar de dieta na mesa do bar. 😉
Obs.: Escrevi este texto faz uns três dias. Hoje, segunda-feira, 18 de dezembro de 2017, a Anitta está em todas as capas dos sites brasileiros por conta do clipe novo, no qual aparece rebolando o bundão REAL, com celulite e sem retoque. Vejo esperança! Por mais verdade nas nossas telinhas. ♥ Anitta rainha. ♥