Quando eu trabalhava em redação, cobria muita pauta de moda e beleza. Frequentemente, quando estava diante de modelos, atrizes e cantoras belíssimas, eu sentia como se elas tivessem passado pelo Photoshop antes do evento: pele, make e cabelos impecáveis; roupas nos cortes e tons corretos; corpos esguios; músculos definidos. Nenhum sinal de excesso de gordura, nenhuma mancha, nenhuma celulite aparente.
Nas raras vezes que eu conseguia ir ao banheiro para fazer um xixi, e esbarrava comigo mesma no espelho, era sempre um choque: “caramba! Acho que eu devia ter me arrumado um pouquinho mais” – era o que eu pensava invariavelmente.
Evidentemente, quando eu saía correndo para uma pauta, eu não estava lá muito preocupada com meu cabelo (que provavelmente estava preso por uma caneta em um coque, pra não cair na minha cara e me atrapalhar) ou com as minhas roupas (procurava usar peças mais confortáveis e tênis ou sapato baixinho, para aguentar longas jornadas de pé).
Não tinha cabimento algum eu comparar a minha imagem – de uma mulher comum – com a daquelas beldades que viviam disso. O “Photoshop” delas vinha muito antes daquele momento do evento que eu estava cobrindo. Cuidar da beleza, para elas, é um verdadeiro “job”, porque a aparência é supervalorizada na mídia, especialmente a feminina.
Sendo assim, por trás dessa ilusória “perfeição”, existe um turbilhão de procedimentos estéticos e cirúrgicos; além de um grande staff composto por nutricionistas, cozinheiros, personal trainers, massagistas, maquiadores, cabeleireiros, cirurgiões plásticos, etc.
Hoje, com as redes sociais, temos os filtros. Então, mesmo que a gente não tenha toda essa equipe por trás para nos maquiar com o tom da base correta e aplicar cílios postiços, os filtros quebram um galho. Assim, conseguimos ficar com uma aparência mais parecida com a das famosas.
Mas e aí: e quando a gente olha pro espelho?
É aí que mora o problema. Estamos nos acostumando cada vez mais com essas características artificiais, e, assim, a nossa beleza real e natural nos parece cada vez mais “xoxa”, sem graça e distante do padrão de beleza imposto.
O Projeto Dove Autoestima comprova isso por meio de pesquisas realizadas no mundo todo. Recentemente, foram divulgados novos dados que valem alguns destaques:
- 1 em cada três meninas diz que precisa receber “likes” para se sentir bonita
- 1 em cada três meninas não se sente bonita em fotos sem edição
- 80% das meninas distorcem a sua imagem online aos 13 anos de idade
Estes números demonstram que, cada vez mais, estamos tentando “esconder” os “defeitos” que a indústria da beleza nos fez acreditar que temos.
Celulite, estria, manchas, espinhas e gordura corporal são coisas reais e normais. Elas só passam a ser uma preocupação quando estão associadas a problemas mais sérios de saúde; como disfunções hormonais ou obesidade (que pode ser fator de risco para algumas doenças crônicas).
É preciso estarmos atentas para não cairmos nas armadilhas da comparação. Isso é muito comum entre as mulheres, especialmente as mais jovens, segundo alguns profissionais da área da Nutrição Comportamental com quem converso frequentemente sobre estes temas.
Eles me contam que as meninas estão cada vez mais influenciadas pelos corpos “perfeitos” do Instagram e do TikTok.
Se você convive com mulheres ou meninas que têm este hábito de falar excessivamente sobre imagem, corpo, dietas e etc: proponha assuntos diferentes.
Quem somos além da nossa aparência? Resposta: somos um milhão de coisas! Somos uma infinidade de possibilidades que vão muito além dos nossos aspectos físicos. ♡
Veja o vídeo da campanha aqui.