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O que é “ser velho”?

o que é ser velho?

Semana passada começou a rolar uma thread no Twitter que evidenciava um conflito de gerações: aparentemente, pagar boleto, ser fã de “Friends” e gostar de cerveja litrão seriam “coisas de velho”. Eu me divirto com esses embates que tomam conta das redes sociais, e, nesse caso específico, me identifiquei 200% com os hábitos típicos da geração Millenium, ou seja, pessoas nascidas entre 1981 e 1996.  

Me fez refletir sobre o que eu considero “ser velho”. Depois de muito conversar com meu marido sobre o tema (sim, threads e memes do Twitter geram boas e profundas discussões aqui em casa), concluí que só fica velho quem desiste da vida, quem acha que é tarde para fazer determinadas coisas. 

Não ignoro o fato de que a idade traz algumas limitações físicas – mas acredito que até isso a gente consegue contornar a partir de hábitos saudáveis ao longo da vida. 

Mas me refiro ao brilho no olhar que a gente tem quando se apaixona por algo novo. A partir do momento que não tem mais isso, envelheceu, na minha concepção.

E num país como o Brasil, que valoriza a juventude a todo custo e deprecia a velhice, isso fica ainda mais evidente. É como se ao atingir determinada faixa etária, a pessoa se tornasse descartável – sobretudo as mulheres.

O debate sobre etarismo tem avançado nos últimos anos, mas acredito que ainda falta muito para compreendermos, de uma vez por todas, que a idade pouco tem a ver com rugas. 

Começar algo novo depois de “véia”: quem disse que não pode?

Eu comecei a fazer trilha depois dos 30. Foi uma coisa despretensiosa: fui pra Chapada Diamantina e simplesmente me encantei com a ideia de andar no meio do mato. Não sou uma trilheira profissional (nem sei se essa palavra existe), veja bem, mas desde essa viagem fiz inúmeras outras trilhas e quero fazer tantas outras…quando estou terminando uma, já penso na próxima.

Nessa viagem, eu tive uma grande inspiração. Um casal na faixa dos 80 fez todas as trilhas que eu e meu marido – com 50 anos a menos – fizemos, e com um sorrisão no rosto, sem sofrer. Ali eu pensei: quero envelhecer assim! 

É difícil desconstruir padrões que a gente cresceu ouvindo, por isso, ver estes dois subindo morro foi bastante impactante pra mim. 

Apesar de nunca ligar muito para essa coisa de idade, eu sempre fiz conta pra saber se estava “atrasada” na vida ou não. Quando eu tinha 15 anos, decidi voltar pro balé clássico (que parei aos 9). Minha preocupação, naquela época, era: caramba, já estou muito velha pra começar tudo de novo (!!!). 

Às vezes me pego com questões que só fazem sentido na minha cabeça como: “se fulana escreveu o primeiro best seller aos 27, pra mim já era”. 

Mas “atrasada”para que e para quem, exatamente? Afinal, quem impõe esses limites de idade? Quem coloca essas nóias na nossa cabecinha? 

No livro “A Grande Magia“, da Elizabeth Gilbert (autora de “Comer, Rezar, Amar“), ela conta que conheceu uma escritora que já estava na casa dos 80 anos quando decidiu, do nada, virar uma especialista em assuntos ligados à Mesopotâmia. E assim ela fez. 

Visitou os lugares, entrevistou pessoas, leu e escreveu pra caramba. Dez anos mais tarde, aos 90, virou referência no assunto e passou a dar inúmeras entrevistas, compartilhando seus conhecimentos sobre esse assunto. 

Fora dos livros a gente também pode encontrar pessoas assim, cheias de vida, independente da idade. É só estar atento.

Na academia que eu frequentava antes da pandemia, tinha bastante gente idosa. 

Notei que eles curtem a vida adoidado, jogam tênis, fazem yoga, vivenciam as manhãs em um tempo diferente do nosso, que estamos sempre correndo.  

Outro dia me surpreendi com um senhor que devia ter no mínimo 80 anos – sozinho na sala de aula – dançando balé! ♡

Lembrei da Dani de 15 anos que se achava velha pra voltar pro clássico. Afinal: quem disse que não pode?


Referências

Defining generations: Where Millennials end and Generation Z begins: https://www.pewresearch.org/fact-tank/2019/01/17/where-millennials-end-and-generation-z-begins/


Foto principal: Brian Hall | Unsplash


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