Oi! Meu nome é Dani Barg, sou jornalista, brasileira, e moro em São Francisco, Califórnia. Não gosto muito de me autodefinir (acho que rótulos aprisionam), mas me entendo como uma “pesquisadora do comportamento humano“.
Já escrevi sobre muitos assuntos: inclusão digital, educação, moda, beleza, turismo, gastronomia, celebridades. Independente do tema, sempre busquei estar atenta ao ser humano, com todas as suas particularidades, belezas e imperfeições.
Adoro ouvir a história das pessoas, adoro entrevistar. Às vezes faço isso sem querer quando acabo de conhecer alguém, e com certa frequência algum amigo gentilmente me lembra: “mas vai fazer entrevista mesmo?”.
Da marmita ao divã
Para que você compreenda a proposta do danibarg.com, preciso voltar para 2014, quando criei o blog Marmiteira. A história completa de como ele nasceu eu contei nesse post aqui, mas basicamente minha única pretensão na época era discutir alimentação de uma forma mais ampla: não só falar de calorias, receitas e nutrientes.
Eu queria, por meio dos meus textos e entrevistas, inspirar aqueles que tinham uma relação ruim com a comida, seja qual fosse o motivo: por terem passado muitos anos entrando e saindo de dietas malucas; por estarem sempre brigando com o próprio peso; por não conseguir ter disciplina para cozinhar ou manter uma rotina alimentar sustentável (e se culpar por isso)…essas coisas.
Esse desejo de falar sobre o tema também vinha das minhas próprias questões com o meu corpo. Embora eu sempre tenha permanecido muito próxima do padrão vigente, volta e meia me sentia mal por engordar míseros dois, três quilos…e às vezes entrava numa espiral de busca por um daqueles corpos que a gente só vê no Instagram. Preocupações essas que são, no mínimo, questionáveis, já que sempre tive uma saúde de ferro.
Nessa época, eu era de fato uma marmiteira e fazia minha própria marmita mesmo tendo um total de zero tempos para ficar na cozinha. Então, também comecei a me interessar muito pela composição dos alimentos e por formas de ficar menos tempo na cozinha. Cheguei até fazer cursos na área de nutrição, ia em todos os eventos que podia e lia todos os livros que dava conta.
Mas quanto mais eu mergulhava nos nutrientes, mais sentia que precisava entender mais de comportamento humano.
Acho que aqui vale lembrar um pouco o contexto da área da alimentação nessa época. Neste mesmo ano, 2014, foi lançado o Guia Alimentar para a População Brasileira. Esse material se tornou uma referência mundial e teve um impacto bastante significativo nas discussões relacionadas à alimentação no Brasil.
Além de prestigiar com maestria as particularidades e ingredientes locais do nosso país gigantesco, o Guia explica de maneira simples a diferença dos alimentos in natura, minimamente processados, processados e ultraprocessados, o que acabou gerando uma onda de valorização do que ficou conhecido como “comida de verdade”.
O industrializado começou a ser questionado, e o arroz-feijão, outrora humilhado, passou a ser exaltado. Eu ouvi amém?
Foi mais ou menos nessa época também que os chefs celebridades passaram a exaltar ainda mais a comida caseira. O Jamie Oliver estava com tudo (naquela época, né…), botando a mão na massa na TV, inspirando milhares de pessoas a fazer o mesmo, e quebrando tudo nas escolas para mudar a merenda das crianças.
Falar de comida tinha se tornado algo “pop”, e nesse caminho, tive a oportunidade de entrevistar muita gente interessante que abriu ainda mais a minha mente. Falei com a Bela Gil, que na época era crucificada por ter colocado uma melancia na grelha e por escovar o dente com cúrcuma (mas, por outro lado, estava vendendo milhares de livros e fazendo muita gente repensar hábitos). Com a Rita Lobo, que já naquela época trabalhava duro para descomplicar a cozinha do brasileiro.
Falei com Alex Atala, que estava na lista dos melhores restaurantes do mundo e ganhava tudo quanto é prêmio exaltando ingredientes tradicionais brasileiros em eventos internacionais. Com o Rodrigo Oliveira, que acabava de “parir” a receita do dadinho de tapioca que acabou sendo replicada no País inteiro (amém!). Bati um papo com chefs como Bel Coelho e Roberta Sudbrack, que saudavam o quiabo, a pupunha, a farofa (amém, amém, amém!).
Visitei a nova cozinha da Palmirinha (e claramente a afofei, deixando todo o meu profissionalismo de lado), que sempre foi rainha, mas estava se tornando ainda mais pop. Afinal, ora, ora, havíamos descoberto que nossas avós sabiam mais de alimentação saudável do que a gente! E que elas estavam cobertas de razão de botar açúcar no café, e não aquela esguichada de adoçante que diziam ser “mais saudável”.
Até a Nigella veio para o Brasil nessa época, e me contou numa entrevista cronometrada (de três minutos!) que, apesar de ter comido bem em vários restaurantes, gostaria de ter tido a oportunidade de entrar na cozinha de algum brasileiro para provar a comida raiz, a comida do dia-a-dia. Mas ela conseguiu comer feijoada e adorou (errada num tá)!
Foi nessa época também que o jornalista e escritor Michael Pollan se tornou ainda mais conhecido por livros como Regras da Comida, O Dilema do Onívoro e tantos outros títulos que se tornaram verdadeiras referências na área da alimentação.
E quanto mais eu entrevistava essas pessoas – e tantas outras menos famosas, mas igualmente cheias de histórias – , mais ficava claro que eu não estava falando sobre receita, sobre nutrientes, ou sobre calorias.
Era sobre estilo de vida, valores. Comportamento!
Conheci a Sophie Deram (e anos mais tarde trabalhei com ela!), que sempre criticou dietas da moda e sempre defendeu comida caseira; cobri simpósios de Nutrição Comportamental, e passei a acompanhar inúmeros profissionais que seguiam essa abordagem.
Eles não acreditavam na fórmula “fecha a boca que emagrece”, mas sim, encorajavam a mudança de hábitos. Entendi que tinha achado minha turma.
Depois de alguns anos escrevendo sobre comportamento alimentar, pra mim ficava cada vez mais claro que as nossas escolhas alimentares têm a ver com absolutamente TUDO que nos cerca:
- Nossa posição social
- Nossa conta bancária
- O lugar onde a gente mora
- Nossa rotina
- A qualidade do nosso sono
- Nosso estado emocional
- Nossas relações familiares e sociais
- Nossa relação com o espelho
- Nossas referências / pessoas que admiramos (para as mulheres, pesa bastante os referenciais femininos, ao começar pela nossa mãe)
- Nossa relação com as redes sociais
- Nosso entendimento e posicionamento diante de uma sociedade majoritariamente patriarcal e com os padrões de beleza impostos por esse sistema – que se refletem na representação da mulher na mídia, no mercado de trabalho, nas nossas relações amorosas, etc.
- Nossos traumas, nossa psique, e, claro – não dá para fugir dele – com o Freud.
Percebendo tudo isso, passei a investigar com mais profundidade a indústria da beleza e a pressão estética que recai especialmente sobre as mulheres. Afinal, estávamos nos alimentando, ou seguindo um monte de regras que nos fizeram acreditar em busca do tal do “corpo perfeito”?
Estou frequentemente tentando entender essa necessidade de nos encaixarmos em um padrão moldado para agradar…os homens. (disclaimer: nada contra homem, gosto muito e até tenho um em casa, mais pqp, viu).
Nessa busca, eu conheci diversas autoras (sempre mulheres; escrevendo para mulheres), que pretendo compartilhar por aqui ao longo dos meus textos e entrevistas.
Existem MUITAS mulheres INCRÍVEIS que estão nessa luta há muito mais tempo que eu. Elas não me conhecem (ainda, risos)…mas abriram caminho para que eu possa hoje estar conscientemente escrevendo sobre isso.
Eu conheci a Gloria Steinem, que me emociona e me inspira de tantas maneiras. Conheci a Naomi Wolf, e meu cérebro explodiu.
“Viver numa cultura na qual as mulheres estão rotineiramente nuas enquanto os homens não o estão equivale a aprender a desigualdade aos pouquinhos, o dia inteiro.”
Naomi Wolf, O Mito da Beleza
Por conta dessas descobertas nessa trajetória, decidi renovar o meu site. Agora, o tema “alimentação”, que antes era o tema principal, passará a dividir espaço com outros assuntos. Ultimamente estou interessada em decifrar esse tal “mito da beleza” e de que forma ele angustia as mulheres diante do espelho. Pretendo compartilhar por aqui as pesquisas que venho fazendo nessa área.
Mas também quero falar sobre outras coisas que me provocam – como a nossa relação com as redes sociais – ou me inspiram, como livros séries, filmes, lugares, comidas, descobertas, futilidades (a futilidade salva)…e tudo o mais que fizer meus olhos brilharem!
Quanto mais ampliamos nosso repertório, mais colocamos a nossa imagem no seu devido lugar: como parte da nossa vida, e não como a única coisa que temos a oferecer para o mundo e, sobretudo, para nós mesmas.
Quanto mais nos inspirarmos em mulheres potentes (pretendo trazê-las nos meus textos!), estejam elas dentro ou fora do padrão de beleza vigentes, mais estaremos prontas para questionar e nos libertar.
Acredito que o primeiro passo para essa libertação é entender que nós, mulheres, não somos obrigadas a nos encaixar em padrão nenhum, a menos que a gente queira. Eu me encaixo em vários porque eu quis assim, mas tem vários outros que eu simplesmente ignoro.
A partir do momento que nos enxergamos além de um número na balança, além de um número de calça, pouco importa se o chocolate tem 100 ou 1200 calorias; passamos a usar o nosso corpo em nosso favor, e não como uma forma de buscar aprovação ou atender às expectativas alheias.
Estou no meu processo; e estou em construção. Se você está interessada em participar dessa jornada, seja muito bem-vinda! Vamos aprender… juntas!
God is in the details, but the Goddess is in the connections.
Gloria Steinem